Este é o segundo genoma de uma ave a ser descodificado. O primeiro foi o da galinha. No caso do mandarim, a vantagem é que esta é uma ave cantora, que tem de aprender o seu canto com os pais, tal como acontece com a aprendizagem da linguagem falada nos seres humanos. Estudo envolveu grupo alargado de investigadores de vários países e é publicado na 'Nature'.
Primeiro foram as galinhas, e agora foi a vez de ser descodificado o genoma do mandarim, um pequeno pássaro canoro originário da Austrália, que tem muito que contar. E cantar. Estes são os únicos dois genomas completos de aves até agora decifrados pela ciência. E o do mandarim tem a grande vantagem de desvendar o código de uma espécie que, tal como os seres humanos, tem de aprender as suas vocalizações com os pais - ou com os mais velhos. Esta característica em comum, pensam os cientistas que fizeram o estudo e o publicam hoje na revista Nature, poderá ser uma mais-valia para o estudo das bases genéticas da vocalização humana também.
Realizada por um vasto grupo internacional de cientistas e de centros de investigação, e apoiada pelo National Human Genome Research Institute (NHGRI), nos EUA, a descodificação do genoma do mandarim permitiu identificar mais de 800 genes que têm um papel na capacidade deste pássaro de aprender e elaborar a partir daí os seus cantos.
Mas não ficam por aqui as novidades. Outra descoberta importante tem que ver com o facto de o canto destes passarinhos envolver uma actividade genética regulatória a nível cerebral que se baseia, não em genes mas em pedaços do genoma que têm sido considerados como junk DNA - ou lixo genético, traduzindo à letra.
Os cientistas já tinham começado a perceber que estes bocados de genoma que não codificam genes, e cuja função foi durante muito tempo um mistério, também estão afinal envolvidos em funções importantes. A descodificação do genoma do mandarim vem não só confirmar isso como dar pistas para algumas possíveis funções. Neste caso a que tem que ver com a elaboração da sua linguagem.
"Comparando o genoma do mandarim com o genoma humano deveremos poder agora ampliar os nossos conhecimentos sobre as vocalizações humanas e a sua aprendizagem", afirmou o director do NHGRI, Eric Green, sublinhando que "essa informação poderá ajudar os investigadores que estão envolvidos no desenvolvimento de novas formas de diagnóstico e de tratamento de perturbações da linguagem, como a gaguez, ou o autismo".
Para David Clayton, que estuda o sistema neuronal do mandarim e que participou na descodificação do seu genoma, o facto de a equipa ter verificado o envolvimento do tal material genético que não codifica genes na actividade canora destes pássaros "é uma boa surpresa", porque confirma a sua importância.
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